julho 07, 2013

O Gambazinho


Foi com o rabo do olho que percebi um movimento na água da piscina. Quando olhei de longe achei que era um sapo ou uma rã. Chegando mais perto, percebi que aquele animal querendo sair sem conseguir era um gambá. Tive de dar a volta na piscina para pegar uma tábua de salvação. Ele acompanhou meus passos nadando muito bem. Tentava agarrar-se na borda lisa, e... nada. Por isso nadava!

Já que eu ia sair dali para buscar a vassoura, aproveitei para trazer também a máquina fotográfica. E o bichinho estava lá. No mesmo ponto que o deixei.

Meu know how de salvamentos de “invasores” eventualmente caídos n’água estava aumentando:

Já salvei um morceguinho. - Como é que ele foi parar ali?

Lagarto por duas ou três vezes.

Um filhote de bem te vi.

Algumas rãs e sapos...

Tarântulas. E sei lá mais o que...

Chegou a vez do gambá porque já não existia o cachorro de vigia no quintal. Era isto!

O cachorro sempre latiu bravo para os que ousassem adentrar seu quadrado.

Fora da piscina, espantava cobras e lagartos.

Eu, por minha vez, já salvei muitas aves que ficaram presas no alambrado que cerca a horta, ou dentro de casa: de gavião a beija flor. Salvei da morte certa um pica pau que bateu no vidro da janela e uma rolinha caída do ninho na boca do cachorro.

Até aqui tudo bem. A cobra na entrada da minha casa eu... matei! Mil perdões pedi à mãe natureza, mas matei. Sempre me disseram que cobra não corre no chão limpo. A varanda cimentadinha e ela lá. Cabeça erguida, língua de fora. Joguei-lhe uma pedra sem acertar. A danada deslizou para dentro do canteirinho de onze horas, peguei um facão na cozinha e fui à caça.

Quando as vizinhas souberam, comentaram:

_Você não deveria ir procurá- la pois não presta procurar cobra.

_Não presta porque quem procura acha. – dizia Donana.

_Não presta porque onde tem uma, tem duas. – explicava Ducarmo.

_Não presta porque os antigos já diziam isto. - concluiu Samaria.

Insatisfeita com tais explanações quis saber do professor de ciências, ouvindo o seguinte:

_Sentindo-se ameaçadas, algumas espécies se escondem e preparam o bote.

Um frio percorreu-me a espinha. Acho que pela primeira e última vez: cacei, achei, matei e tirei o couro de uma serpente.

O capinador vem limpar o quintal todo mês, os restos de comida ficam bem tampados para não atrair roedores, entulho só fica parado de um dia para o outro e estou criando umas galinhas d’angola.

_E se aparecer outra cobra dessa no portãozinho do seu alpendre? - perguntou a criança muito curiosa.

_Com uma vassourona na mão direi a ela que esta é a minha casa e ela deve ir para a casa dela. Fique na sua! - Gritarei com firmeza.

_Então é ado, ado, ado, cada um no seu quadrado?


_É! Ou asa, asa, asa, cada qual na sua casa, pois há espaço para todos no mundo.

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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que “escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia.”

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